segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Uma nação que se pretenda digna desse nome...

*Ponta da Vermelharia-São Nicolau*

Esse desenvolvimento desigual do país é no mínimo estranho.

Mas o mais estranho é a distância que separa algumas ilhas do país. Falo aqui não da distância geográfica, mas da subjectiva distância dos investimentos de planeamento urbano nas diferentes ilhas. Algumas ilhas têm plano de desenvolvimento urbano, plano de desenvolvimento municipal, plano de desenvolvimento turístico, e mais outros tantos planos; Enquanto que outras não têm nenhum dos acima mencionados, como se do Cabo Verde da época dos descobrimentos se tratasse; de tão intocadas.

Não é possivel desenvolver efectivamente sem um trabalho de base intenso, sério & consequente. Nas décadas anteriores deveria ter sido elaborado um Plano de crescimento, a longo prazo, que previsse e disciplinasse o crescimento do país, segundo directrizes que levassem em conta as necessidades, o potencial, e os recursos naturais de Cabo Verde. Mas esse Plano teria de ser de tal forma sério & credível, que se desdobrasse em sub-planos, para cada ilha do arquipélago, conforme suas peculiaridades.

Só assim eu acreditaria que existe planeamento urbano neste país, pois o planeamento é um trabalho de base para o desenvolvimento de qualquer nação que se pretenda digna desse nome. Porque simplesmente não acredito que desenvolver Praia é desenvolver São Nicolau e o país como um todo. E nem tenho intenções de vir a acreditar.

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Planeamento urbano e urbanismo

*Faça clique na foto para ampliá-la* Reconstrução digital da Roma antiga
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Uma definição precisa do que seja o planeamento urbano necessáriamente passa pelo trabalho de localizá-lo, enquanto disciplina, em relação ao urbanismo. Tanto o planeamento urbano quanto o urbanismo são entendidos como o estudo do fenómeno urbano em sua dimensão espacial, mas diferem notadamente no tocante às formas de actuação no espaço urbano. Desta maneira, o urbanismo trabalha (históricamente) com o desenho urbano e o projecto das cidades, em termos genéricos, sem necessáriamente considerar a cidade como agente dentro de um processo social conflitivo, enquanto que o planeamento urbano, antes de agir directamente no ordenamento físico das cidades, trabalha com os processos que a constroem (ainda que indirectamente, sempre actue no desenho das cidades). Favelas são um exemplo de falta de planejamento urbano.
O planeamento urbano é uma actividade, por excelência, multidisciplinar, enquanto que o Urbanismo, ao longo da história, se caracterizou como disciplina autónoma (especialmente do ponto de vista profissional). Porém, os limites entre o planeamento e o urbanismo são pouco claros na prática: atividades típicas do planeamento (como a criação de um plano director), são eventualmente tratadas como "obras de urbanismo".

A questão da definição clara e distinta das duas disciplinas complica-se de facto quando se procura a sua história: é um consenso, no meio académico, que o Urbanismo seja tratado apenas como disciplina autónoma a partir do século XIX e que o planeamento urbano surja como matéria de interesse acadêmico apenas no século XX, mas também é facto que as cidades são planeadas e desenhadas desde o início da civilização. Desta maneira, a história das cidades (ou da urbanização, para ser mais preciso), ocorre paralelamente com a história do homem em sociedade, embora o estudo da intervenção do homem na cidade seja mais recente. A partir do momento em que se considera que o planeamento urbano lida básicamente com o conjunto de normas que regem o uso do espaço urbano (assim como sua produção e apropriação), sua história seria bastante diversa daquela referente ao desenho das cidades.

Os muçulmanos são muitas vezes creditados com a criação do zoneamento, criando zonas específicas para estabelecimentos comerciais, residências, culto religioso, etc.
Muitas cidades das civilizações pré-colombianas também construíram suas cidades, considerando um planeamento urbano incluindo sistemas de esgoto e de água corrente.
Os antigos romanos utilizaram um padrão consolidado de planeamento urbano, voltado para defesa militar e conveniência civil. O plano básico é uma praça quadrada central com serviços urbanos, cercados por uma grade compacta de ruas, tudo cercado por um muro para defesa. Para reduzir o tempo necessário para locomoção, duas ruas em diagonal cruzam pela praça quadrada. Um rio geralmente corre dentro da cidade, para obtenção de água potável e transporte, e despejo de esgoto, até mesmo durante cercos. Muitas cidades européias ainda conservam a essência destes plano, como Turim.
Habitantes de cidades da antiguidade criaram certas áreas destinadas para encontros, recreação, comércio e culto religioso. Muitas destas cidades possuíam muralhas em volta, cujo objetivo era impedir (ou, ao menos, de dificultar) o acesso de possíveis inimigos à cidade.
(Continua...)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

EVOLUIR, porque não?

O planeamento urbano em Cabo Verde é um tema que não tem tido e nem irá ter a atenção merecida nas próximas luas.
Falo aqui de planeamento urbano na sua real dimensão: de planear a cidade como um todo, de forma abrangente e consequente, onde cada detalhe, por menor (pormenor) que seja, possua importância vital para o funcionamento geral.

Todos os elementos de uma cidade merecem atenção, de acordo com a importância do seu papel na hierarquia do planeamento urbano.
Tratado com a complexidade que merece, a cidade deve ser entendida como um tecido vivo, onde intervenções num dado local podem produzir efeitos concretos tanto no próximo cruzamento como no bairro seguinte.

E qual será a importância do sector do transporte dentro dessa hierarquia do planeamento urbano? Em uma só palavra – Fundamental.

Este tema surge na sequência de minha constatação do visível aumento no fluxo de trânsito nas ruas da capital do país.
O problema que se põe é: quando o fluxo de viaturas nas ruas da Praia for tão intenso, (o que não demorará muito para acontecer, tendo em conta o crescimento exponencial na venda de veículos) a ponto de ser impossível circular pela cidade nos horários de ponta, nem mesmo através de transporte público (por não existirem vias alternativas, tampouco transportes alternativos), terão que existir derivações simultâneas que passem num mesmo local, mas em níveis distintos e com destinos diferenciados: os chamados elevados, ou rodovias elevadas.
Os técnicos responsáveis por recomendar este tipo de infra-estruturas fazem estudos de fluxos, intensidade de tráfego, etc, e chegam à conclusão de quantas derivações (e de que nível) serão necessárias para que todos cheguem no seu destino sem maiores retenções.
Falo aqui de criar soluções urbanísticas para o futuro, que sejam fruto de um trabalho de equipa que englobe além dos Urbanistas, Arquitectos, Engenheiros de estradas, tráfego, etc. Pensar e projectar infra-estruturas urbanas que tenham em conta, não só o estado actual da cidade, mas principalmente, a previsão do crescimento da urbe.
As famosas fases do trabalho científico, encaradas na vida real: estudar, analisar, concluir e agir.
Tendo constatado um problema presente e que tende a agravar-se gradualmente, é chegada a hora de se passar para a acção, pois para a capital do país, já passou da hora de se intervir. Os elevados já deviam ter sido projectados, devendo estar na sua fase de execução; tendo em conta que algumas rotundas da cidade da Praia, são o exemplo vivo dessa necessidade. A da Terra Branca não deixa dúvidas relativamente a esse assunto.

Tendo em conta que um problema não resolvido num determinado ponto da cidade pode repercutir em locais distantes, corre-se o risco de colapsar todo o sistema viário num horizonte temporal não muito longínquo.

Não podemos só começar a pensar no futuro quando ele acontece, ou melhor, aconteceu. Isso é passado, e não futuro.
Prever antes que se faça necessário. Na minha concepção não é impossível, tampouco magia ou premonição. É evolução. Isso mesmo, EVOLUIR, porque não?

*O conteúdo deste site expressa a opinião técnica pessoal do autor, não devendo ser, por isso, associada a qualquer instituição governamental, não-governamental, religiosa, partidária, ou de qualquer outra estirpe *

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010




Sonhe como se fosse viver para sempre, viva como se fosse morrer amanhã.James Dean




Abstraio um pouco dos temas habituais deste blog...em homenagem a essa época fabulosa que é o final-de-ano. Afinal nada é sempre igual, & quem decide aqui sou eu. Por isso posto aqui um texto meu do 31º dia de Dezembro de 2009.

Final-de-ano tem uma influência diferente sobre minha pessoa. A imagem de uma chuvinha fina caindo sobre folhas levemente avermelhadas vem sempre na minha mente, ao acordar. Toda a poesia do mundo sob a forma de gotas frias e silenciosas. Um tipo de melodia diferente ecoa entre meus ouvidos. Algo melancólica e estranha, embora bastante familiar. Ela me desconecta do mundo real por alguns dias, elevando-me a um outro nivel, me fazendo pensar, analisar, relembrar e reviver momentos passados. Tão intensamente a ponto de conseguir ver meus próprios erros. Coisas pequenas às vezes. Às vezes nem por isso. Um ciclo que termina num outro que se inicia. O que mudou. Aquilo que perdi. O que ganhei. Os lugares que pude conhecer, reais ou não. Palavras que poderia não ter dito. Se poderia ter feito melhor. O quanto mudei. O avançar de meu grau de miopia. Coisas que quase conseguiram me tirar da linha, e aquelas que porventura tenham conseguido. A atriquia. Os desenhos que fiz. Pessoas que conheci sem planear e qual o significado que isso poderá ter. A morte de familiares; e o modo como conseguem transformar o vazio em algo tão pesado. Pequenas derrotas e o gosto amargo que me deixaram no fundo da boca. Músicas que me tocaram. A leitura que faço do que vi, ouvi, senti. O que escrevi. O que fiz e não faria. As vitórias alcançadas, e o seu sabor sublime. As alegrias ainda não alcançadas - Planos. Nesta época sou só planos. Penso o impensável. Planeio o nada planeável...e sonho. Os sonhos mais absurdos possíveis. São meus. Todos meus. Porque viver é sinónimo de sonhar. Carpe diem. No máximo significado. Seja bom ou menos bom. Muito ou pouco. É meu. É pra isso que aqui estou. Viver é isso mesmo. “Viver é desenhar sem borracha”. Descansem em paz. Dentro de mim ao menos. Fazer o meu melhor. Sempre. Não existe plano melhor, eu penso, sentado de frente pro mar.